Futebol sem Globo: relembre casos que ficaram marcados na História

Futebol sem Globo: relembre casos que ficaram marcados na História

27 de junho de 2020 0 Por Allan Simon

A Globo é praticamente sinônimo de transmissões de futebol no Brasil desde que a emissora comprou os direitos da Copa União de 1987, a competição organizada pelo Clube dos 13, primeira tentativa real de união entre os clubes brasileiros para negociar coletivamente com a TV, além de fazer um Campeonato Brasileiro mais enxuto e menos bagunçado.

Desde então, a emissora passou a exercer um domínio ao transmitir praticamente tudo o que aconteceu de mais importante no futebol. Todas as Copas do Mundo, sendo a conquista do penta, em 2002, com exclusividade do Grupo Globo em todas as mídias, títulos de Libertadores, do Mundial, da Copa do Brasil, do Brasileirão, de estaduais, torneios europeus, Olimpíadas.

Muito por isso, cada vez que a Globo ficou fora de alguma competição, isso por si já foi motivo para virar notícia. E o Blog do Allan Simon resgata agora alguns dos casos mais marcantes da história de quando o grupo de comunicação mais poderoso do Brasil acabou barrado em torneio e eventos importantes.

Confira no vídeo: 

– Brasileirão sem Globo (1990-1991)

Depois de transmitir três edições com o contrato assinado em 1987 com o Clube dos 13, a Globo decidiu abandonar o futebol nacional. O Brasileirão de 1990 só teve transmissão confirmada prestes a começar, quando a Bandeirantes resolveu assumir o acordo e exibir as partidas na TV aberta.

Deu muita sorte. Pegou logo o primeiro título do Corinthians na história do Brasileirão. E em um clássico contra o São Paulo, ainda por cima, rendendo audiência acima dos 50 pontos em SP para a Band.

Mesmo assim, a Band seguiu com os direitos de transmissão sozinha em 1991. A Globo ficou fora novamente e perdeu a chance de exibir o começo da trajetória vitoriosa do São Paulo de Telê Santana, que foi campeão contra o Bragantino na decisão.

Em 1992, a Globo, vendo o sucesso do futebol na Band, resolveu retomar as transmissões. Para a Band, isso também era bom, porque o contrato era muito caro e a economia brasileira vivia momentos muito ruins para que uma emissora de porte bem menor ficasse sozinha com os gastos da exibição do Brasileirão.

– Libertadores de 1992 – Primeiro título do São Paulo foi sem Globo

Ainda com a prática de ignorar o futebol, a Globo acabou vendo a Rede OM de Televisão adquirir os direitos da Libertadores em seu ano de estreia. A emissora paranaense tinha planos ousados de expansão, tirou Galvão Bueno da maior TV do país, e queria ser a primeira rede com sede fora do eixo Rio-SP.

O projeto começou bem com a transmissão exclusiva da Libertadores bem no ano em que o São Paulo de Telê Santana deu outra dimensão à competição no Brasil. A Globo até tentou comprar os direitos quando o Tricolor já estava na final, história contada pelo próprio Galvão Bueno no livro “Fala, Galvão”, mas a OM bateu o pé e ficou com a exclusividade, superando os 50 pontos de audiência em SP.

Em São Paulo, a Rede OM era transmitida pela TV Gazeta. Afetada por escândalos no fim do Governo Collor, a emissora acabou vendo seu projeto virar pó no ano seguinte. Virou CNT, no ar até hoje. A Libertadores voltou para a grade da Globo, que transmitiu o bi do Tricolor em 1993.

– Copa do Brasil 1995

A Globo não transmitia a competição antes, mas pouca gente se importava com a Copa do Brasil. Mesmo dando vaga na Libertadores, o torneio era tido como algo menor no calendário nacional. Passou até pela grade da Rede Manchete.

Mas o SBT viu ali uma janela de oportunidade. Apostou as fichas, deu uma nova roupagem à Copa do Brasil, transformou em um produto mais bem acabado, e fez explodir o torneio mais democrático do país.

Ganhou, como recompensa, um título do Corinthians em seu primeiro ano de transmissões, também superando a marca de 50 pontos de audiência em SP e fazendo história. A emissora de Silvio Santos só veria audiência maior em 2001, na final do reality show Casa dos Artistas.

O SBT transmitiu a Copa do Brasil com exclusividade em TV aberta por mais dois anos, mostrando os títulos de Cruzeiro (1996) e Grêmio (1997). Em 1998, mostrou a primeira conquista do Palmeiras, mas a Globo também tinha os direitos daquela edição.

– Mundial de Clubes 2000

A Globo ignorou o Mundial de Clubes da Fifa de 2000, a primeira edição realizada pela entidade máxima do futebol mundial. Os direitos de transmissão acabaram caindo no colo da Band, que tinha a área de esportes gerida pela Traffic, empresa que participou da organização do torneio no Brasil.

Os dois times brasileiros que participaram do Mundial chegaram à decisão. Correu na época nos bastidores a notícia de que a Globo teria tentado comprar os direitos da final, assim como na Libertadores de 1992, mas a emissora negou esses rumores.

O fato é que Corinthians x Vasco, que teve o título mundial indo parar nas mãos dos corintianos após disputa de pênaltis, fez a Band superar a novela da Globo e ainda marcar mais de 50 pontos no Ibope com as penalidades.

– Libertadores 2012

Sim, a Globo transmitiu essa competição em TV aberta. Mas perdeu o domínio na TV paga. Nos anos anteriores, a Libertadores era exibida pelo SporTV, que comprava os direitos da Fox, a detentora deles na América Latina.

Até o BandSports chegou a transmitir a Libertadores por meio de sublicenciamento junto ao SporTV. Mas tudo mudou quando a Fox resolveu trazer para o Brasil o Fox Sports.

O canal, que era aguardado no país desde os anos 1990, quando a Globo tentou criar um “ESPN Fox Sports” (sim, isso mesmo, a Globo, a história completa você pode ler aqui), chegou tirando a competição do SporTV, ficando com a exclusividade total na TV paga.

Como o canal demorou um pouco a entrar nas operadoras, a Fox teve que usar outras marcas do grupo, como o FX, para transmitir o começo da competição, uma espécie de “degustação” do que viria na nova emissora.

De novo, o Corinthians deu sorte para o canal recém-chegado. A Libertadores de estreia do Fox Sports Brasil foi justamente a vencida pelo Timão, que sofria naquela época com a piada por ser o único grande paulista sem aquele troféu na coleção.

Vale ainda uma citação ao Paulistão 2003, que teve briga judicial entre SBT e Globo. A emissora carioca chegou a abrir mão de jogos em algumas rodadas para não atrapalhar sua grade de programação. No fim, ambas transmitiram a reta decisiva do torneio, que ficou mais lembrado pela polêmica de TV do que pela bola jogada em campo. O campeão? Sim, ele mesmo, o Corinthians.

– Polêmicas com a Globo nos últimos anos

Casos como o Athletiba de 2017, transmitido pela dupla rival no YouTube após nem Athletico Paranaense e nem Coritiba venderem seus direitos de transmissão do Estadual para a RPC (afiliada da Globo), ou os jogos do Brasileirão 2019 que ficaram sem TV por causa da falta de acordos do Palmeiras (TV aberta e PPV, até a quinta rodada) e Athletico Paranaense (sem PPV até o fim) também são marcantes.

Agora, em 2020, o Flamengo virou o centro das atenções. Campeão da Recopa Sul-Americana em jogos transmitidos com exclusividade pelo DAZN, o time não vendeu os direitos de transmissão de suas partidas no Carioca para a Globo, que já perdeu a conquista rubro-negra na Taça Guanabara.

Os próximos capítulos dessa briga, principalmente alavancados pela MP 984/2020, que muda o entendimento e dá ao mandante o direito exclusivo de determinar quem transmite uma partida, prometem bastante confusão. O Blog do Allan Simon vai acompanhar cada detalhe.

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